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| Morro da Mina |
Durante muito tempo de minha vida de escalador sonhei com o tempo em que poderia escalar livre..... apenas escalar sem cobranças e sem regras..... Então depois de uma decisão que mudou minha vida posso falar( escrever) que consegui! Foram anos de procura ate mudar minha rotina, minha vida e vir morar em Laguna – litoral de Santa Catarina. Um lugar mágico por suas belezas naturais e suas vias consistentes em granito, no inicio da temporada fui convidado pelo Filipi Ronchi a desenvolver um pico de escalada encravado em meio a um cânion - o Cânion da Serrinha - onde os trabalhos de conquista foram iniciados e a cada investida uma nova via ia surgindo, vias em fendas perfeitas, diedros alucinantes e artificiais de tirar o fôlego, vias em arenito que nos transformaram , até que em nossa ultima investida no pico em dois dias de escaladas atingimos o cume da Serrinha. Estávamos então com a sensação de missão cumprida. A via que deu cume se deu em dois dias duros de escalada que rendeu 150 metros de via conquistado e nem um pino batido, essa até então a segunda maior via do sul do estado. Ficamos nos ares, conseguimos depois de 4 meses e 5 vias abertas chegar no cume da rocha!
Como já estávamos entrosados e escalando rápido no arenito decidimos por ir ao Setor São Pedro onde se encontra a via Samambaiaçu com seus 180 metros de um D4 sem repetição, o objetivo nesse final de semana era fazer um reconhecimento da base e já dar uma curtida no pico...pico esse que é alucinante! Mas durante nossa ida para o abrigo são Pedro passamos pelo Morro da Mina – parede sem vias abertas - quando passamos de carro pelo morro fiquei sem fôlego...palavras....fui até o São Pedro mas não consegui me concentrar, só tinha olhos para o Morro da Mina. Na volta da trilha chegamos nos carros que estavam na base do morro e ficamos conversando e olhando as linhas possíveis de escalar,isso, falei as linhas possíveis de escalar! Então, eu `Sapo`, Filipi e Renato decidimos que todas as nossas investidas seriam naquela montanha.
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| chegada |
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| Renato e Sapo na logística |
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| travessia do rio |
Resultou em 05 investidas:
Na primeira o Filipi e o Elias foram fazer um reconhecimento na base da via. Já pôde se ver que a linha era ótima mas tinha que fazer um artificial de uns 25 a 30 metros até chegar em um diedro alucinante que levava a um teto (até onde dava pra ver) e ainda tinha uns 150 metros acima do teto que não dava para visualizar. Passado primeiro susto dividimos a parede em partes onde em duas investida o Filipi, Renato e Aline conquistaram o artificial, que foram interrompidas devido as chuvas, mas que deu cabo e conseguiram fixar corda até o inicio do `diedrão`!
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| Filipi no artificial |
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| Sapo no diedro |
A cordada do diedro e do teto ficou em minha mão, conforme combinado fomos para o morro na sexta –feira, ficamos na casa do Jr (Projeto Felinos) que mora em frente ao pico. As 4 da manha levantamos e pegamos a trilha, mas como nada nessa parede é fácil, fizemos a trilha com chuva forte nas costas. O que nos consolava era que tinha um teto que acreditávamos proteger a parede, chegamos na base eu `Sapo`, Filipi e Renato. Me equipei e não perdi tempo jumariei ate a P1 e já inicie o reboque dos equipos enquanto o Renato chegava na P1.
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| Sapo na virada do teto |
Iniciei e escalada do diedro lindo e interminável, coloquei dois jogos de camelot na cadeirinha e na bandoleira, a cada metro o diedro escalado em livre me encantava....escalando rápido e livre pude fazer a escalada render pois nosso objetivo era chegar no cume no find, até que no meio da cordada logo já tive que resolver um offwt muito ruim.....tive que fazer um A0 nele e continuei a escalada ate que cheguei nos metros finais do diedro, lance de agarras e fenda em um arenito fragmentado que no final da fenda tive que fazer uma travessia para direita de uns 6 metros sem proteção, sem chance de cair - uma queda ali seria muito ruim E3 - enfim cheguei embaixo de teto em um platô que cabe duas pessoas em pé, sem muito conforto, bati um grampo e o Renato veio limpando. Quando ele chegou na parada, o hallbag eu já tinha içado, catei as peças e toquei para cima em um arenito de lacas ruim, demos o nome para cordada de “Lacas que Voam” então coloquei uma fita em bico de pedra, única proteção que achei que seguraria uma queda, estiquei uns 8 metros de corda e na virada do teto quebrou metade do bico, resultado...fiquei pendurado com as pernas no vazio rezando para não cair, uma queda ali seria fator 2, foi quando escutei o Renato gritar: `ai minhas costas`! O bloco passou de raspão nele, como não podia pensar muito virei o teto e respirei, falei com o Renato e vi que tava tudo bem, mais 2 metros de escalada e a primeira proteção...ufa...Depois fiquei sabendo que o bloco que caiu assustou o Filipi o Jr que estavam na base da pedra... barulho assustador!
Depois de colocar a peça #4 embaixo do teto tinha mais uma virada de teto pela frente, com lances de agarras, virei e escalei mais uns 5 metros e enfim cheguei na P3. Para falar a verdade os 15 metros mais longos da escalada - arenito podre com duas viradas de teto. Fiz a parada em uma arvorezinha e o Renato na peleia limpando chegou, tínhamos 85 metros de via nas costas... só alegria! Novamente peguei as peças e mais um teto em chaminé para virar. Virando o teto uma fenda perfeita com lances em diedro, escalei mais 20 metro, a noite caia, iniciamos então o rapel, mas o que nos preocupava era e chuva que durante o dia todo ficou presente, com rajadas de vento forte, pois estávamos protegidos pelos tetos escalando em uma rocha seca.
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| Filipi chegando no platô a noite |
Bem, com os pés no chão pensamos em comer algo, mas não deu, a chuva pegou com força. Fomos para nossas redes de cearense cobertas por lonas, antes as primeira hora de chuva já estava tudo molhado...rede...saco de dormir. Passado um tempo a chuva deu uma trégua, fizemos uma janta quente, que só deu tempo de comer e logo a janela se fechou, voltamos para nossas redes e confesso, foi minha noite mais longa! O Filipi e o Renato também não dormiram nada nessa noite, foi quando o dia clareou que conversamos, estávamos congelados. Nesse tempo chega o Elias,Tatu e Bonjiolo para iniciar uma via na outra face do morro e nos encontraram arrepiados de frio, segundo o Elias nossa cara era de pavor....ele até se motivou a comprar um anorack novo ahshahsh Decidimos abandonar a escalada naquele dia, um dia inteiro de escalada, noite sem dormir, muita chuva, frio... o suficiente para desistir.
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| Sapo na rede molhada |
Quinta e última investida, chegamos no morro novamente com chuva no sábado, esperamos dar uma trégua e iniciamos a trilha as 10 da manha, perto do meio dia já estávamos na base da via. Tínhamos 130 metros de jumar.... equipos para rebocar....estávamos eu `Sapo` e Filipi na peleia novamente....o Renato viria mais tarde, pois tinha que ficar trabalhando. Jumareamos ate onde a escalada tinha parado no ultimo sábado, o Filipi pegou a ponta da corda e tocou pra cima ate fechar a cordada que para nossa sorte deu em um platô lindo. Que seria nosso acampamento. O Renato já estava na base da via iniciando o jumar, tivemos que trabalhar juntos. Renato jumareando. Filipi na P5 limpando Platô. Eu rapelando para içar hallbag do chão. Hallbag e eu na P3, Renato passou direto para P4, passou o equipo para o Filipi e eu na P3 passando equipos. Já passava das 21:30hs quando conseguimos jantar e curtir o visual do morro com o moradores apavorados vendo as luzinhas das reds subindo e descendo na parede. Combinamos que no domingo tinha que dar cume, fomos dormir e a noite a chuva rondando nos assustou um pouco, não sabíamos muito bem onde estávamos na parede, pois tinha horas que acabávamos perdendo a noção do tamanho total da rocha!
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| Filipi jumareando |
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| Sapo jumareando |
Domingo de sol! Obaaa! Clareou o dia já estávamos prontos para escalar de novo e a cordada que abriria seria do Renato que a fez com maestria, saindo do platô por um trepa mato do caramba que levava a duas fendas e ele teve que fazer a escolha de uma ou de outra, pois uma vez em uma não tinha como voltar, foi que decidiu pela da direita....sorte tivemos heheheh Chegou embaixo de uma parede com uma leve virada em negativo e depois lances de agarras, esperou pelo Filipi que quando chegou tomou a ponta da corda e iniciou a cordada nos lances de agarras exposto com uma proteção marginal e uma seqüência de lances de agarras, decidimos por bater um grampo (único grampo fora das paradas nos lances em livre) lance passado e chegando em uma fenda que levava ao cume. Ainda estamos a uns 40 metros do cume foi que o Filipe colocou uma peça #.4 e sentou para ver o lance acima e a peça rasgou a fenda, suficiente para drenar total, pois uma queda ali seria de se machucar....E3.
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| Sapo na P5 |
Renato pega a ponta da corda e termina o lance vai entrando na fenda com delicadeza e consciência de seus limites, vai progredindo em peças delicadas ate a fenda se tornar suja e de colocações difíceis... desce. Eu tava dormindo no platô acordo com o Renato me passando a ponta da corda, jumariei até onde tinha terminado a cordada, levo estribos e peças para artificial. Chego no ponto final da corda pego uma fenda suja....penso...coloco peças...nada fica, ate que cavando bem na fenda suja aparece um lugar que cabe um nut duvidoso, consigo progredir, segue uma serie de peças ruins ate que coloco uma peca #1 muito boa...consigo respirar.... vejo então uma canaleta suja que leva ate onde acredito ser um platô, saio em livre com um esticão de uns 5 metros viro o platô e acho uma arvore muito boa para ser parada, fixo corda e espero pelo Filipi e Renato que chegam na seqüência, enquanto eu analisava o final os últimos 15 metros para o cume. Pois a montanha tava lutando até o final! Visualizamos uma chaminé a partir do meio dos blocos. Decidimos daqui e dali quem iria pegar a ponta da corda, eu queria que fosse o Filipi o primeiro montanhista a colocar o pé no cume do morro da mina, por questão de momento o Renato e o Filipi decidiram que fosse eu...lá vamos!Escalando uns lances chatos de blocos empilhados entrei no chaminé, entrei todo e progredi com um pouco de dificuldade, então segurei em um bloco no fundo do chaminé que se desprendeu e me prendeu dentro do chaminé ( era do tamanho do meu tronco) eu não podia jogar para fora do chaminé pois cortaria a corda e pegaria no Filipi e no Renato, depois de me controlar um pouco....pós desespero. Pensei em jogar o bloco para dentro do chaminé, foi que se partiu ao meio ufa...nem acreditei..... porque senão não sairia dela, pois tava preso por ele no chaminé, não ia nem para cima e nem para baixo. Peguei a metade de cima e joguei para fora do chaminé e consegui jogar longe da parede, caiu a um metro do Filipi e do Renato e a galera que tava na rua vendo agente escalar viu o estrondo vindo morro a baixa.Essa parte resolvida peguei a outra metade e escorei dentro da fenda, ai consegui escalar o resto da chaminé, escalei mais um pouco e cheguei a um metro do cume!Esperei o Filipi e o Renato e chegamos juntos no cume!
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| última cordada |
Urrruuuuu cumeee!(com lagrimas no olhos) Chegamos por uma linda escalada e na parceria firmeza dos amigos! Chegamos no cume no meio da tarde, conseguimos chegar na estrada perto das 21:00 horas com todo nosso material.. cansados mas pero felices!
Grau sugerido: D5 7a ( VIIb/A0) A2 E3 -210 metros nome “ Um Maluco porra loca sonhador e o Segredo” Hoje a maior via da Serra Geral de Criciúma e acho que do sul de Santa Catarina.
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| croqui |
Tivemos patrocínio da Montanha Equipamentos, Terran, Reduto Natural e Sapo Agarras.
Agradecimento especial a nossa família que sempre nos apoiou a minha Su que fica na torcida, a Aline e Fernanda que curtiram a escalada de luneta a cada lance!
Obs.: Se você conseguiu ler ate aqui é porque gosta de parede, então borá lá repetir!Precisamos confirmar o grau.
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| visual |
Abc sapoo
Edição número 07 - Dez/2011
